O Palácio de Versalhes (em francês: Château de Versailles) é um castelo real localizado na cidade de Versalhes, uma aldeia rural à época de sua construção, mas actualmente um subúrbio de Paris.[1] Desde 1682, quando Luís XIV se mudou de Paris, até a família Real ser forçada a voltar à capital em 1789, a Corte de Versalhes foi o centro do poder do Antigo Regime na França.[2]
Em 1660, de acordo com os poderes reais dos conselheiros que governaram a França durante a menoridade de Luís XIV,[3] foi procurado um local próximo de Paris mas suficientemente afastado dos tumultos e doenças da cidade apinhada. Paris crescera nas desordens da guerra civil entre as facções rivais de aristocratas, chamada de Fronde. O monarca queria um local onde pudesse organizar e controlar completamente um Governo da França por um governante absoluto. Resolveu assentar no pavilhão de caça de Versalhes, e ao longo das décadas seguintes expandiu-o até torná-lo no maior palácio do mundo. Versalhes é famoso não só pelo edifício, mas como símbolo da Monarquia absoluta, a qual Luís XIV sustentou.[4]
Considerado um dos maiores do mundo,[1][4] o Palácio de Versalhes possui 2.153 janelas,[5] 67 escadas,[6] 352 chaminés,[7] 700 quartos, 1.250 lareiras e 700 hectares de parque.[1] É um dos pontos turísticos mais visitados de França,[1][8] recebe em média oito milhões de turistas por ano e fica a três quarteirões da estação ferroviária.[9] Construído pelo rei Luís XIV, o "Rei Sol", a partir de 1664,[1] foi por mais de um século modelo de residência real na Europa, e por muitas vezes foi copiado.[4]
Incumbido da tarefa de transformar o que era o pavilhão de caça de Luís XIII, no mais opulento palácio da Europa, o arquiteto Louis Le Vau reuniu centenas de trabalhadores e começou a construir um novo edifício ao lado do já existente.[10] Foram assim realizadas sucessivas ampliações - apartamentos reais, cozinhas e estábulos - que formaram o Pátio Real.
Le Vau, não conclui as obras. Após sua morte Jules Hardouin-Mansart tornou-se, em 1678, o arquiteto responsável por dar continuidade ao projeto de expansão do palácio.[10] Foi quem construiu o Laranjal, o Grande Trianon, as alas Norte e Sul do Palácio, a Capela e a Galeria de Espelhos (onde foi ratificado, em 1919, o Tratado de Versalhes).[11] A última, trata-se de uma sala com 73m de comprimento, 12,30m de altura e iluminada por dezessete janelas que têm a sua frente, espelhos que refletem a vista dos jardins.[12]
Em 1837 o castelo foi transformado em museu de história.[1] O palácio está cercado por uma grande área de jardins,[13] uma série de plataformas simétricas com canteiros, estátuas, vasos e fontes trabalhados, projetados por André Le Nôtre.[11] Como o parque é grande, um trem envidraçado faz um passeio entre os monumentos.[14]
O primeiro château
A primeira menção à aldeia de Versalhes encontra-se num documento datado de 1038, a “Charte de l'abbaye Saint-Père de Chartres” (Carta de Direitos da Abadia de Saint-Père de Chartres). Entre os signatários da Carta encontra-se um Hugo de Versalhes, a partir do nome da aldeia.[15][16]
Durante este período, a aldeia de Versalhes, centrada num pequeno castelo e igreja, e a área envolvente eram controladas por um senhor local. A localização da aldeia, na estrada de Paris para Dreux e para a Normandia, trouxe-lhe alguma prosperidade, mas devido à Peste negra e à Guerra dos Cem Anos, esta seria largamente destruida e a sua população severamente diminuida.[17][18]
Em 1575, Albert de Gondi, um florentino, comprou o senhorio. Gondi havia chegado a França com Catarina de Medici e a sua família tornou-se influente na Assembléia dos Estados Gerais francesa.[16] Nas primeiras décadas do século XVII, Gondi convidou Luís XIII para várias caçadas na floresta de Versalhes. Em 1624, depois desta introdução inicial à área, Luís XIII ordenou a construção de um castelo de caça.[19] Desenhada por Philibert Le Roy, a estrutura foi construida em pedra e tijolo encarnado com um telhado de ardósia. Oito anos depois, em 1632, Luís XIII conseguiu a escritura e posse de Versalhes a partir da família Romonov, e começou a fazer ampliações ao palácio.[13]
Os construtores do Palácio de Versalhes se espelharam em Metamorfoses para construírem alguns de seus territórios.[20] O Palácio foi construído sob o domínio de Luís XIV de França, no Absolutismo, provavelmente para exaltar seu poder majestático.[4] Para viabilizar o projeto, Colbert, por volta de 1660, convocou os famosos Irmãos Perrault, Charles e Claude, o arquiteto Louis Le Vau, o pintor Charles Le Brun e o paisagista André Le Nôtre, que formaram a Direção das Artes.[21] A Direção das Artes idealizou um conjunto de edifícios cercados por quadros geométricos constituídos por flores e plantas, com diversos bosques e estradas e canais estupendos. Basearam-se, portanto, nas imagens soltas escritas por Ovídio no Livro II de sua Metamorfoses.[21] Basearam-se também no pensamento de Descartes, que dizia que o homem deveria tornar-se o "senhor e dono da natureza".[21]
Versalhes na Revolução Francesa
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Em maio de 1789 o Salon d'Hercule foi o local da apresentação formal dos duzentos deputados eleitos pelo povo da França, e no dia 5 a Assembléia se reuniu na Salle des Menus, fora dos portões do palácio. Durante trinta dias os deputados foram obrigados a ouvir os discursos do Rei, enquanto bandos de revoltosos agiam por todo o país. Em 20 de junho os deputados se reuniram no pavilhão de tênis - o Jeu de Paume - e proferiram um juramento de não se dispersarem enquanto a França não tivesse uma Constituição, e os relatos de época informam sobre a atmosfera de tensão e medo que tomou conta da corte. Três dias depois Luís XVI fez um discurso ordenando que a Assembléia fosse dissolvida, mas sem efeito. Então um grande grupo de populares entrou no anfiteatro no intuito de demolí-lo, mas encontraram a firme oposição de Mirabeau, que temia pela vida dos deputados, e ameaçou a turba de morte. Em torno do palácio, outros grupos de revoltosos conseguiram penetrar em vários pontos do edifício. Dali em diante explodiam insurreições pela França a cada dia, e a situação estava fora de controle, apesar de tentativas de sufocamento por parte das forças realistas. No dia 5 de outubro de 1789 chegou às portas do palácio uma multidão de mulheres famintas e enraivecidas que havia saído de Paris para protestar junto ao rei, clamando por comida. À noite, pressionado, o rei assinou a Declaração de Direitos diante da Assembléia. À meia-noite Lafayette chegou, acompanhado de uma força de vinte mil soldados da Guarda Nacional, e reportou-se imediatamente ao rei, retirando-se em seguida para a vila de Versalhes a fim de descansar, deixando as tropas acampadas nas redondezas do palácio. Antes de raiar o dia seguinte, uma multidão conseguiu vencer os muros e portões, e invadir o palácio por várias frentes, e sucederam cenas sangrentas em seus salões e corredores. Vários chegaram até os apartamentos reais, mas foram contidos pelos guardas, resultando em mortes de ambos os lados, enquanto outros roubavam mobília e objetos valiosos. Finalmente Lafayette, tendo sido avisado, chegou, a multidão foi expulsa, e o Rei foi aconselhado a se mostrar dos balcões junto com a Rainha. Para sua surpresa, recebeu vivas e aplauso do povo reunido, mas ao mesmo tempo lhe pediam que fosse a Paris, onde os tumultos eram intensos, e não teve escolha senão aceder. Escoltado por Lafayette e a guarda, deixou Versalhes com a família no dia 6 de outubro.[41]
Pouco depois da partida da família real o palácio de Versalhes começou a ser esvaziado. Enquanto o Rei viveu, muita mobília foi removida e transferida para as Tulherias, onde ele estava. Várias pinturas e objetos de arte passaram para a guarda do Museu do Louvre, incluindo a Mona Lisa e obras valiosas de Ticiano, Rubens e Van Dyck. Outros conteudos foram distribuido por várias instituições públicas: livros e medalhas foram para a Bibliothèque Nationale, relógios e instrumentos científicos (Luís XVI era um entendedor de ciência) para a École des Arts et Métiers. Os revolucionários debateram longamente sobre o destino que Versalhes deveria ter, e muitos queriam seu completo desmantelamento e venda dos bens ainda existentes. Entretanto, em julho de 1793 a Convenção decretou que seria transformado em escola provincial, biblioteca pública e em um museu de arte e história natural. Também os moradores da vila de Versalhes se manifestaram favoráveis à sua conservação, pois poderia ser fonte de lucros para a comunidade, além de reconhecerem que apesar de sua ligação com o Antigo Regime, ainda assim era um monumento às artes e à cultura da França. Em 1794 e 1795 dois decretos asseguraram sua preservação como um bem público, mas em 1796 o Ministro das Finanças ordenou que a mobília remanescente fosse vendida.[42][43] Versalhes foi o mais ricamente equipado palácio da Europa até que a realização de longas séries de leilões nas suas instalações, as quais se desenrolaram por meses durante a Revolução, o esvaziaram lentamente de todos os bens de luxo a preços ridículos, maioritariamente por brocanteurs (sucateiros) profissionais. A proposta imediata era conseguir fundos, desesperadamente necessários, para armar o povo e pagar os credores do Estado, mas a estratégia de longo alcance destinava-se a assegurar que Versalhes não serviria para o regresso de nenhum Rei. A estratégia funcionou.[43]
Panorâmica do palácio visto dos jardins.